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É CÍRIO, OUTRA VEZ!

O Pará já dispõe de 65 municípios classificados como turísticos pelo Ministério do Turismo (MTur), de acordo com o novo Mapa do Turismo Brasileiro divulgado nesta terça-feira (12), em Brasília (DF). É o maior número de municípios da Região Norte, quase o triplo do registrado no último levantamento, que mostrou 23 cidades nessa condição. O mapa destaca os municípios que adotam o turismo como estratégia de desenvolvimento de políticas públicas, com foco na gestão, estruturação e promoção, de forma regionalizada e descentralizada. Na foto, Procissão do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, a maior manifestação religiosa Católica do Brasil.
FOTO: ANDERSON SILVA / AG. PARÁ
DATA: 11.10.2015
BELÉM – PARÁ

O mês de Outubro chegou e com ele, os paraenses aguardam ansiosamente o 2º domingo, dia da grande festa – e maior procissão religiosa do Mundo – que é o Círio de Nossa Senhora de Nazaré. Todos os anos, há mais de dois séculos, uma multidão sai às ruas para saudar, reverenciar, pedir bênçãos e proteção para a “querida Nazinha” (apelido carinhoso dito pelos devotos, à Virgem de Nazaré) e que atualmente reúne cerca de 3 milhões de pessoas, e com isso, vemos um verdadeiro sinônimo de fé e devoção dos fiéis para com a padroeira dos paraenses. Ao longo do percurso de quatro quilômetros – saindo da Igreja da Sé/Catedral de Nossa Senhora das Graças com chegada na Basílica – Santuário de Nossa Senhora de Nazaré – inúmeras preces, cantos, promessas e homenagens são realizadas.

COMO SURGIU O CÍRIO
Segundo a lenda, um homem simples, chamado Plácido José de Sousa, natural do Alentejo, foi o responsável por esse culto. Registos comprovam que no início de 1700, às margens do igarapé Murutucu, local onde está a basílica, quando conduzia o gado, surpreso encontrou uma imagem pequenina sobre pedras lodosas. Apanha-a e leva-a para casa, porém na manhã seguinte o lugar estava vazio. Procurou-a e encontrou-a no local de origem.
Propalada a descoberta, pessoas entendendo ser milagre acorreram ao local. Rezas, velas, flores e promessas em torno da imagem cresceram. Em 1728, a epidemia de bexiga assolou a cidade, aumentando o número de devotos, implorando curas. Alcançadas as graças, a fé atingiu contornos elevadíssimos. Em 1746, novo surto da doença ceifa muitas vidas. Decorridos três anos, o sarampo faz grande número de vítimas, elevando a crença dos católicos.
Em 1782, o bispo D. João Evangelista pede à rainha D. Maria I de Portugal permissão para realizar uma festa pública segundo o ritual litúrgico. Sem resposta, o bispo Frei Caetano Brandão, em 1788, reitera o pedido à Coroa Portuguesa. A 14 de setembro de 1790, o Papa Pio VI concede permissão, ressaltando que seria de acordo com a tradição portuguesa. A 31 de maio desse ano, faleceu Plácido de Souza, deixando como substituto António Agostinho, vereador da Câmara Municipal de Belém. O governador D. Francisco de Souza Coutinho, gravemente enfermo, prometeu à Virgem que se ficasse curado levaria na romaria um círio da sua altura. Restabelecido, cumpriu a promessa e, a partir deste momento, a procissão passou a chamar-se Círio.
A 7 de setembro de 1793, à noite, houve a trasladação da santa, da ermida para a capela do Palácio do Governo. No domingo, à tarde, realizou-se o Primeiro Círio de Nossa Senhora de Nazaré com grande acompanhamento. Devido à chuva vespertina passou para a manhã do segundo domingo de outubro

PORQUE CÍRIO?
O termo círio origina-se do latim cereus, que significa uma grande vela. Os romanos utilizavam-na durante os cultos. Os cristãos usam nas missas, funerais, festejos especiais e nas procissões, como símbolo da luz e da fé.
Como citamos acima: o primeiro Círio, que em latim significa vela, aconteceu em 1793. Neste período, a festa religiosa ocorria no mês de setembro, época bastante chuvosa. Como não havia energia elétrica, as velas iluminavam o caminho por onde passava a procissão. As pessoas viam as velas e diziam “Está vindo o Círio de Nazaré”, e por isso o nome passou a ser esse.

A CORDA
Um dos maiores símbolos do Círio de Nazaré é a corda. Todos os romeiros querem tocar nela e levar um pedaço para casa, mas a introdução da corda ao Círio tem um motivo bem diferente. Em 1855, durante uma forte chuva, o carro de bois que levava a imagem de Nossa Senhora de Nazaré atolou na altura do Mercado Ver-o-Peso. Para ajudar, os feirantes amarraram uma corda e conseguiram desatolar o carro. A partir daí a corda passou a ser usada no Círio de Nazaré com a função de desatolar o carro de bois caso houvesse necessidade.
Desde então, há uma verdadeira briga para chegar perto da corda. Algumas pessoas levam facas para cortar um pedaço e carregar para casa mesmo indo contra os pedidos da igreja.
A corda é algo tão importante que existe um comércio ilegal em que pequenos pedaços chegam a valer mais de R$ 1.000. Por isso, o momento em que a corda passa é o mais tenso da procissão, principalmente quando ela é cortada. São muitas pessoas juntas, muita gente querendo pelo menos encostar na corda. E quando alguém consegue um pedaço dela, outros saem correndo em cima para tentar pegar. É preciso ter cuidado para não se machucar.

A FESTA
O Círio de Nossa Senhora de Nazaré, que tem por característica principal ser uma grande manifestação de fé, não poderia ter os seus festejos em apenas um dia. Toda a preparação é praticamente anual, mas a mobilização com maior fluxo de intensidade, já começa a ser realizada durante o mês de agosto, com novenas nas casas dos fiéis, a apresentação do manto, a divulgação do cartaz e a intensificação da programação dos 15 dias de festa.
Na sexta-feira que antecede o domingo do Círio, pela manhã, acontece a maior das 12 procissões do círio que é o círio rodoviário (saindo pela manhã da Basílica com destino à cidade de Ananindeua), já a noite, tem o Auto do Círio. Embora não faça parte do calendário oficial, a festa já foi integrada pelos paraenses à agenda do Círio.
O Auto do Círio é a festa dita profana e parece um grande espetáculo religioso, um carnaval. É um desfile com fantasias, carros alegóricos e trios elétricos em homenagem à Nossa Senhora de Nazaré e que mistura artistas profissionais e amadores. O cortejo, que acontece pelas ruas da Cidade Velha, é realizado pela Universidade Federal do Pará desde 1993.
No sábado, logo nas primeiras horas da manhã, uma outra procissão leva a imagem até o Distrito de Icoaraci. De lá é dado início ao Círio Fluvial, que reúne cerca de 500 barcos grandes e pequenos que vão se agrupando ao longo do percurso pelas águas da Baia do Guajará.
Ao meio dia, na Basílica Santuário, acontece um dos momentos mais emocionantes da grande festa, que é a “Descida do Glória”. Momento esse em que a imagem encontrada pelo caboclo Plácido, é retirada de seu nincho que fica na parte mais alta sob o altar e que durante 15 dias, fica mais próxima dos fieis para exposição e veneração.
Na noite de sábado, acontece a Trasladação, que é quando a imagem de Nossa Senhora de Nazaré sai do colégio Gentil e vai até a Catedral, onde passa a noite. Esta procissão já é popularmente conhecida como o “Círio dos jovens e universitários”, pois reúne cerca de dois milhões de fiéis em uma emoção sem igual para ser descrita.

O GRANDE DIA!
Às 6h30 da manhã a grande procissão sai da Catedral e vai até a Basílica. Durante todo o caminho, a imagem de Nossa Senhora de Nazaré para em frente a prédios e estabelecimentos comerciais para receber homenagens. Tudo previamente combinado com a organização. São bandas que cantam músicas, orações e chuvas de papel picado e pétalas em todo o trajeto.
Nas ruas principais, há arquibancadas públicas, que vendem ingressos por cerca de R$ 50, para que os moradores e os turistas possam observar de longe a passagem da procissão. Além disso, há camarotes particulares, que também vendem ingressos.
Ao chegar ao CAN – Centro Arquitetônico Nazareno, a imagem é retirada da berlinda pelo arcebispo metropolitano de Belém que a ergue abençoando o povo. Em seguida, é rezada a missa e, ao término, é recolhida ao altar-mor permanecendo 15 dias recebendo os devotos.

A CIDADE
Anualmente cresce o número de peregrinos em Belém, incrementando a economia, quando milhões de turistas lotam a rede hoteleira, movimentando todos os setores produtivos do Estado, principalmente o comércio, a indústria e os serviços próprios da época, incentivando o turismo religioso. Na quadra nazarena há um acréscimo de 30% no mercado de trabalho quando milhões de reais são injetados na economia paraense. As autoridades esmeram-se na recepção aos visitantes na maior festa de confraternização conhecida como o “Natal dos paraenses”.
Pela importância do simbolismo religioso, o Círio de Nazaré teve em setembro de 2004 aprovado pelo Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) o seu registo como Património Cultural de Natureza Imaterial, comemorado jubilosamente pela comunidade paraense.

CÍRIO EM NÚMEROS
15 dias de festa
12 procissões no total
Aproximadamente quase 3 milhões de pessoas nas ruas
O trajeto da procissão tem 3,6 km.
500 embarcações acompanharam a Romaria Fluvial
5h foi o tempo que levou a grande procissão do Círio de Nazaré em 2017
Em 2017, aconteceu a edição de 225 do Círio.

Texto: Suellen Nunes
Imagens: Agência Pará