Quer mais leituras?

Voltar

Portugal tem queda de 54% nas receitas e perda de 365 mil postos de trabalho no turismo

A Organização Mundial do Turismo (OMT) estima que no ano passado houve uma perda de U$ 4,5 trilhões no turismo mundial e a extinção de 62 milhões de postos de empregos. Em Portugal, segundo o Banco de Portugal, as receitas turísticas encolheram mais de 10 bilhões de euros em relação a 2019, quando o turismo arrecadou 18.430,72 milhões euros em gastos de turistas estrangeiros e nacionais no país, o que denota uma perda aproximada de 54,25% nas receitas turísticas.

Os dados da União Geral de Trabalhadores (UGT) apontam que 365 mil trabalhadores perderam seus postos de trabalho entre 20 de março de 2020 e 24 de janeiro de 2021, dos quais 265 mil corresponderam a contratos não renovados. O dirigente sindical Carlos Silva, em entrevista ao site Dinheiro Vivo, disse que “há muitas empresas que continuam a despedir”, lamentou.

Muitos são os motivos para as demissões; dentre elas estão: a queda brusca de turistas estrangeiros, as baixas receitas dos restaurantes, bares e hotéis; ainda, as fronteiras fechadas e os aviões em terra na pandemia elevaram o desemprego no setor turístico de Portugal. Os níveis do desemprego só foram amenizados com o lay-off simplificado e linhas de crédito liberados pelo governo.

A empregada de mesa Inês Aires, de 23 anos, é uma das desempregadas no setor turístico. “Não foi fácil. Senti muita dificuldade com a perda do ritmo de trabalho, pois, todos os dias eu conhecia pessoas de diferentes nacionalidades e agora estou em casa”, conta. Ela morava há dois anos na Ilha da Madeira e trabalhava na Quinta Perestrello quando foi demitida em março do ano passado. “Já estava à espera da demissão; não pensava que seria logo no início”, disse.

A empregada de mesa Inês Aires em busca de novo emprego.
Foto: Arquivo Pessoal

Em consequência do desemprego, Inês teve que retornar a morar na casa dos pais, em Gondomar, no Porto. “Estou procurando emprego e ainda não consegui. As empresas dizem que não têm certeza quando voltam a abrir”, relata. “Já falo inglês, espanhol e francês, e, agora, faço uma formação em língua gestual”. Mesmo com qualificação profissional – é técnica de turismo e gestora de hotelaria (restauração e bebidas) –, ela tem dificuldade de encontrar emprego.

Sobre o futuro, a jovem destaca que “pra já ainda não será como antes. As coisas podem virar. Acredito que com o tempo as coisas serão como antes”, frisou. Assim que a pandemia passar, Inês revela que deseja retornar à Ilha da Madeira e conseguir um emprego. “É o que a gente precisa neste momento. Emprego”, disse em tom sonhador.

Para além do desemprego, o impacto econômico da pandemia no turismo de Portugal foi notável em relação à entrada de turistas estrangeiros no país. Dados preliminares do Instituto Nacional de Estatística (INE) apontam que em 2020 apenas 10,5 milhões de turistas entraram no país, enquanto em 2019 foram 24,6 milhões de turistas estrangeiros.

O turismo e as indústrias a ele relacionadas responderam, no final da década, por 17% do Produto Interno Bruto (PIB), por 19% do emprego e 20% das exportações totais portuguesas. Apesar de o governo ter liberado o turismo doméstico nos meses de verão em 2020, a falta do turista estrangeiro impactou significativamente a economia, provocando naquele ano uma retração de 7,6%.

“É um facto que o turismo tem um peso considerável na economia portuguesa. Os agentes económicos que investiram no sector limitaram-se a tirar partido das vantagens (clima, geografia, gastronomia, cultura) que colocam o país entre os destinos preferidos. É óbvio, também, que com a restrição da circulação de pessoas era de prever que o turismo fosse um dos sectores mais atingidos, o que teria também repercussões negativas para a evolução do PIB. Aqui, limitamo-nos a constar factos, sem haver lugar a uma reprovação das políticas públicas (até porque o investimento foi privado) nem análise contra factual”, comenta o economista e professor da Universidade Fernando Pessoa, Paulo Vila Maior.

Recuperação do turismo português
A agência canadiana DBRS Morningstar divulgou nota em fevereiro passado que para o turismo português em 2021 será “mais um ano difícil”. Lê-se na nota “o choque da Covid-19 será temporário e não deverá resultar em mudanças estruturais no sector turístico português”: “Embora esta crise vá ter, inevitavelmente, graves consequências para muitos trabalhadores e empresas, particularmente os mais expostos à actividade, a procura turística em Portugal deverá regressar aos níveis pré-pandemia”.

De acordo com a DBRS Morningstar o turismo português possui características que o mantém atrativo. Dentre estes a natureza, a gastronomia, a cultura e a logística de transportes no território português, que trazem milhares de turistas do Reino Unido, Alemanha, Espanha, França, Holanda e Brasil.

Para o economista e professor da Universidade Fernando Pessoa, Paulo Vila Maior, a recuperação do turismo de Portugal ainda está distante. “Julgo que a recuperação do sector do turismo será ao longo do tempo, até porque a incerteza sobre a evolução da pandemia persiste, o que poderá obrigar os governos a adotarem uma estratégia de prudência no retomar da vida normal (no que ela ficar de normal). Por outro lado, é preciso apurar os efeitos negativos que a pandemia teve até ao momento. Pode acontecer que muitos estabelecimentos turísticos (hotéis, restaurantes) não reabram porque faliram. Se este número for considerável e se houver uma retoma apressada na procura por produtos turísticos, até pode acontecer que a oferta seja inferior à procura, o que pode ditar um aumento dos preços. Falta ainda saber se a perda de rendimentos das famílias atingiu proporções tais que as impeça de fazerem férias neste verão”, frisou.

Legenda: O economista e professor universitário, Paulo Vila Maior, visualiza a recuperação do turismo a longo prazo.
Foto: Arquivo Pessoal

O Futuro

Em entrevista ao jornal Público, a secretária de Estado do Turismo de Portugal, Rita Marques, anunciou que as fronteiras ao turismo devem abrir na segunda quinzena de maio para aqueles que têm certificados de vacinação ou de teste negativo. “Portugal prepara-se para começar a receber turistas britânicos a partir de 17 de maio, contanto que apresentem um certificado de vacinação ou um teste negativo a Covid-19”, disse a secretária.

A Comissão Europeia já aprovou a liberação do Certificado Verde Digital, um documento facilitador para viajar; um livre-trânsito digital que vai permitir retomar as viagens, mas que é necessária a comprovação da vacinação ou a recuperação do viajante. O passe inclui também resultados de teste ou informação de imunidade para pessoas que tenham se recuperado da Covid-19.

Os empresários do turismo português acreditam que é preciso uma vacinação em massa nos meses que antecedem o verão. “A vacinação em massa, a testagem rápida, o uso de máscara, são ações necessárias para o turismo do Algarve e região do Tejo”, em entrevista à Rádio Antena 1, comentou João Fernandes, da Associação do Turismo de Algarve. Ele complementa que no próximo verão de 2021 deverá crescer o turismo interno. “O mercado nacional sempre foi importante para o Algarve. Existe um preconceito que o Algarve é caro para os portugueses, mas há opções para todos os bolsos”.

O representante do Destinos Norte-Centro de Portugal, Luís Pedro Martins, relembra que no verão de 2020 houve um crescimento de 80% na procura dos destinos nas regiões do Douro, Minho e Trás-os-Montes. “Tivemos um pequeno balão de oxigênio na busca do enoturismo, religioso e turismo de natureza. Acredito que teremos um bom fluxo no próximo verão devido à conectividade aérea de Portugal, que atrai também novas companhias aéreas”, frisou em entrevista na Rádio Antena1.

Texto e imagens: Isa Arnour, de Aveiro – em Portugal.