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Botos que encantam Mocajuba no Pará

Hoje posso dizer que compreendo a razão pela qual deram ao boto da Amazônia o protagonismo de uma das maiores lendas de encantamento. O contato com eles é uma experiência mágica! E os moradores de Mocajuba, no nordeste paraense, sabem disso melhor que ninguém, já que todas as manhãs eles têm a oportunidade de alimentar os botos que visitam a orla da cidade.

Foi justamente essa possibilidade de conhecer um pouco mais destes mamíferos que me motivou a ir até Mocajuba e ver de perto um pouco do lugar e destes mamíferos extraordinários que precisam, sim, ser preservados. Acessando as redes sociais de amigos que tenho na cidade descobri que próximo ao Mercado Municipal foi montado o “Mirante do Boto”, um espaço que se confunde com uma estrutura de trapiche. É por lá que eles passam todas as manhãs. Para quem literalmente mergulha nesta aventura sem medo consegue ainda nadar com os botos, tocá-los, fazer carinho. Um contato incrível que somente a natureza amazônica pode proporcionar.

Mocajuba tem outros atrativos turísticos que ainda pretendo conhecer, mas este dos botos foi o que me motivou para fazer um “mochilão” por lá. Distante a 232 quilômetros de Belém, a cidade fica as margens do rio Tocantins. São nestas águas que botos, pescadores e ribeirinhos vivem em perfeita harmonia.

No período em que estive lá, eram pelo menos 12 mamíferos – sendo 3 machos e 9 fêmeas – que costumavam visitar o mirante. Por esses dias soube do nascimento de um filhote – que foi batizado de “feijão” (ainda não sei se é macho ou fêmea). Os mamíferos catalogados pelos pesquisadores são da espécie Inia araguaiaensis (também conhecidos por botos vermelhos).

Os botos chamam a atenção de feirantes, pescadores, consumidores e turistas que não resistem a esta aproximação e acabam passando a manhã juntos.

Esta interação entre humanos e botos é acompanhada de perto pelo pesquisador Ricardo Calazans, que participa de um projeto de monitoramento de mamíferos aquáticos [coordenado por cientistas da Universidade Federal do Pará – UFPA] e que também foi contratado pela prefeitura para fazer pesquisas de observação de comportamento dos animais e verificar a saúde deles. Além disso, faz um trabalho de educação ambiental na região – justamente para falar da importância da preservação do rio Tocantins, dos botos e de todo o ecossistema.

O Ricardo tem maior prazer em explicar do que se trata o trabalho dele e dar instruções de como proceder (interagir) com os botos, respeitando o espaço deles e os cuidados que devemos tomar neste contato. Aliás, reforço que para quem for visitar os botos deve primeiramente pegar todas as orientações possíveis com o Ricardo – isto porque as recomendações são imprescindíveis para evitar acidentes com os animais.

Uma curiosidade sobre a dieta dos botos de Mocajuba é que o peixe favorito deles é o da espécie mapará, muito consumido na região. Outra curiosidade que me causou surpresa em relação aos botos é que eles não são (ou não tem) pitiú. Quando fiz carinho neles, trouxe as mãos até o nariz acreditando que pudesse ter ficado algum cheiro, mas não.

A visita dos botos ao mirante, no mercado de Mocajuba, segue uma espécie de rotina, de ritual, dos mamíferos que aparecem sempre entre os horários de 8h e 12h. Para o Ricardo Calazans, isto pode estar relacionado principalmente ao fato dos botos encontrarem alimento fácil na área do mirante, já que as pessoas costumam dar peixe para eles. Importante lembrar também que o mirante fica em frente ao mercado que funciona somente pela manhã.

A relação dos botos com o Ricardo é antiga. A impressão que temos é que eles já firmaram uma parceria. É curioso porque basta o pesquisador bater as mãos suavemente na água e os mamíferos se aproximam. É neste momento que todos se rendem ao encanto dos botos.

Texto e Imagens: Denilson D´Almeida, Colunista Portal Pará Trip