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Tagore Editora lança nova tradução do mais influente ensaio feminista de Virginia Woolf

A Tagore Editora lança, no Dia Internacional da Mulher, uma nova tradução, em língua portuguesa, de A Room of One’s Own, o mais influente ensaio de Virginia Woolf (1882-1941). Intitulado Um Quarto Só para Si e traduzido pela experiente Maria Luiza X. de A. Borges, o livro tem organização e apresentação da jornalista e escritora Sonia Zaghetto, que incluiu 150 notas explicativas a fim de ajudar o leitor a compreender as muitas referências e alusões contidas na obra, escrita na Inglaterra há quase um século.

“Muitas dessas referências tornaram-se obscuras para os leitores contemporâneos. Assim, as notas informam contextos, apresentam personagens e propiciam ao leitor do século vinte e um uma compreensão mais profunda dos nomes e situações que Virginia Woolf tão cuidadosa e brilhantemente incorporou ao seu ensaio”, observa a organizadora.

A pintura escolhida para a capa da edição da Tagore está estreitamente relacionada à história do livro. Chama-se Interior with Artist´s Daughter e foi produzida em 1935 por Vanessa Bell (1879-1961), pintora, ilustradora, designer gráfica e irmã mais velha de Virginia Woolf.

Vanessa criou as capas de todos os livros da irmã publicados pela editora dos Woolfs, a Hogarth Press. Ao incorporar o trabalho dela ao projeto gráfico e à capa desta obra, o premiado designer Victor Burton e a Tagore Editora prestam uma homenagem às duas irmãs.

A moça retratada na pintura da capa é a sobrinha de Virginia Woolf, Angelica. Ela, Vanessa e Leonard Woolf acompanharam a escritora a Newnham quando a escritora fez, no dia 20 de outubro de 1928, uma das palestras que resultaram em Um Quarto Só para Si.

O quadro dialoga com o tema de Woolf no ensaio, uma vez que retrata o espaço criativo e independente da narrativa feminina. A pintura mostra Angelica sentada em uma poltrona no estúdio de Vanessa Bell, em Charleston. Está imersa em arte, absorta na leitura e cercada pelas cores, estampas e padronagens têxteis tão caras à artista. Algumas dessas padronagens foram usadas pelo designer Victor Burton no projeto gráfico do livro.

Jornalista e escritora paraense organizou a edição

A organizadora da nova edição de Um Quarto Só para Si, Sonia Zaghetto, é graduada em Literatura e em Comunicação Social (Jornalismo) pela Universidade Federal do Pará (UFPa), instituição na qual se orgulha de ter sido aluna de Benedito Nunes e dos poetas Ruy Barata e João de Jesus Paes Loureiro.

Sonia trabalhou como jornalista em vários jornais paraenses, como O Liberal e o Diário do Pará, além da TV Cultura. Mudou-se para Brasília em 1994 e depois para o Canadá. Há quatro anos mora em San Jose, na Califórnia, Estados Unidos.

Para a publicação da Tagore Editora, Sonia releu a obra completa de Virginia Woolf, além dos cinco volumes de diários e duas biografias da escritora. A pesquisa durou dois anos, nos quais Sonia adquiriu e leu vários livros citados por Woolf no texto.

Sonia Zaghetto é autora de História de Oiapoque, livro sobre os quinhentos anos de história da fronteira do Brasil com a Guiana Francesa, publicado em 2019 pela editora do Senado Federal. Também publicou o livro de contos A Página em Branco dos Teus Olhos, em parceria com o dramaturgo Cláudio Chinaski (2020) e Crônicas do Vento de Abril (2021). Em 2020, assinou a tradução da peça teatral O Correio, do poeta indiano Rabindranath Tagore, prêmio Nobel de Literatura de 1913.

O designer Victor Burton é um dos mais celebrados do país. No mercado editorial desde 1977, é detentor de diversos prêmios, já trabalhou para as maiores editoras do brasileiras e é uma referência no design gráfico nacional.
Por sua vez, a tradutora Maria Luiza X de A. Borges estabeleceu uma forte reputação ao traduzir para as mais renomadas editoras brasileiras obras de Lewis Carroll, Arthur Conan Doyle, Jean-Paul Sartre, Bertrand Russell, Marguerite Yourcenar e Stephen Hawking.

Por sua vez, a tradutora Maria Luiza X de A. Borges estabeleceu uma forte reputação ao traduzir para as mais renomadas editoras brasileiras obras de Lewis Carroll, Arthur Conan Doyle, Jean-Paul Sartre, Bertrand Russell, Marguerite Yourcenar e Stephen Hawking.

Um clássico que há quase cem anos inspira as mulheres

Um Quarto Só para Si é um histórico ensaio de Virginia Woolf originalmente intitulado “Mulheres e Literatura”, baseado em duas palestras que a escritora proferiu em outubro de 1928 no Newnham College e no Girton College, as primeiras faculdades femininas da Universidade de Cambridge, na Inglaterra.

Elaborado com mais de uma centena de referências literárias e históricas, fina ironia, argumentação profunda e belas metáforas, o livro apresenta uma tese essencial, sintetizada na frase “uma mulher deve ter dinheiro e um quarto só para si se pretende escrever ficção.

Embora tenha sofrido diversas revisões e acréscimos, a versão final mantém o sentido das conferências originais, de uma mulher falando para um público feminino. O ensaio — publicado pela primeira vez em setembro de 1929 — tornou-se provavelmente o mais influente trabalho do gênero no século vinte. Há quase cem anos ele inspira gerações de mulheres no mundo inteiro, não apenas por suas ideias e reflexões, mas também pela prosa artisticamente construída.

Virginia Woolf escreveu o ensaio em um cenário sociopolítico de conquista de espaço e direitos femininos. Na Inglaterra, até o fim do século dezenove, a mulher tinha raras opções de trabalho, especialmente no campo intelectual; praticamente nenhum dinheiro; era proibida de cursar universidades e de expressar suas opiniões em público; além de toda a sua riqueza, bens e propriedades (herdados ou produzidos) pertencerem ao marido. Nas primeiras décadas do século vinte, as leis estavam mudando — graças especialmente à ação das sufragistas — mas havia um largo território a conquistar nas mentes, ainda regidas pelos valores, preconceitos e regras de decoro vitorianos. O irrestrito direito feminino ao voto ocorreu no ano em que Woolf fez as palestras. Apenas em 1920 as primeiras mulheres passaram a receber diplomas em Oxford, embora desde 1879 estudassem nos poucos cursos universitários que eram autorizadas a frequentar. Em Cambridge, local das conferências de Virginia Woolf, as mulheres teriam direito a receber um diploma somente em 1949, oito anos após a morte da escritora.

Neste ensaio, Woolf vale-se de diversas estratégias para explorar a linha histórica da relação entre mulheres e produção literária. Todas elas a serviço de explicar ao leitor o caminho que a autora percorreu para chegar à conclusão de que uma aspirante a escritora deve ter independência financeira e um espaço próprio, com fechadura.
Um Quarto Só para Si celebrizou uma série de imagens criadas por Virginia Woolf: a teia de aranha, o gato sem cauda, a proibição de pisar na grama, as diferenças nas refeições servidas a homens e mulheres, o amor secreto de Chloe e Olivia, a expulsão da biblioteca e a fictícia irmã de Shakespeare, que se fosse tão genial quanto o irmão, estaria fadada a fazer tarefas domésticas e, caso insistisse em atender ao chamado da arte, provavelmente terminaria seus dias sepultada em alguma encruzilhada de Londres (o lugar destinado aos suicidas), após sucessivas humilhações e abusos físicos, sexuais e psicológicos.

Virginia Woolf não elabora este texto sob as regras tradicionais do ensaio. Vale-se de uma forma de expressão inovadora, na qual usa a técnica literária dominada por ela na sua escrita ficcional, o fluxo de consciência.
Um Quarto Só para Si é dividido em seis capítulos. Woolf inicia com um relato autobiográfico, confessando suas reflexões e dificuldades para elaborar a palestra sobre “Mulheres e Ficção”. Em seguida, adota uma persona chamada Mary Beton e passa a se dirigir ao seu público usando essa identidade. Mary examina as diversas maneiras pelas quais as mulheres foram excluídas das instituições sociais e políticas ao longo da história, com foco principal na experiência britânica.

O próximo passo é examinar a literatura produzida por mulheres. É nesse ponto que Woolf cria uma irmã para William Shakespeare. Ela aponta que a imaginária “Judith Shakespeare”, se tivesse o mesmo gênio e potencial do irmão, jamais alcançaria igual fama, pois lhe seriam negadas as oportunidades desfrutadas pelo sexo masculino na época: educação formal e a chance de reconhecimento no teatro elisabetano.

O ensaio prossegue com Mary Beton apresentando o talento, as dificuldades e os obstáculos enfrentados por autoras hoje consagradas, como Jane Austen, as irmãs Brontë, George Eliot e pioneiras como Aphra Behn, que no século dezessete tornou-se a primeira escritora profissional na Inglaterra.

Um Quarto Só para Si investiga questões importantes para a produção literária feminina, como ausência de privacidade para trabalhar, impossibilidade de ter mais interação social e conhecimento do mundo, o peso do ressentimento contaminando a literatura e o fato histórico marcante da entrada em cena da mulher de classe média no papel de escritora e da razão para haver escolhido o romance como principal gênero literário para expressar a sua arte.

Um Quarto Só para Si é a obra de não ficção mais conhecida de Virginia Woolf. Embora a escritora tenha produzido vários outros ensaios, e uma ou outra de suas opiniões tenha sido pontualmente criticada por algumas escritoras e críticas feministas, ele inaugurou diversos debates da crítica literária feminina e antecipou preocupações teóricas que só décadas depois viriam a ser exploradas. Merecidamente, há quase cem anos reina como um dos mais inspiradores e instigantes textos sobre a relação entre mulheres e escrita.

Virgínia Woolf

Virginia Woolf é um dos maiores talentos literários do século vinte. Sua abordagem não linear da narrativa ficcional exerceu forte influência sobre o romance moderno. Com James Joyce e William Faulkner, ela forma a mais destacada trindade de escritores que ousaram fazer experimentos na linguagem e usaram com maestria a técnica do fluxo de consciência. Escreveu seis romances: The Voyage Out (A Viagem, 1915), Night and Day (Noite e Dia, 1919), Jacob’s Room ( O quarto de Jacob, 1922), Mrs. Dalloway (1925), To the Lighthouse (O Farol, 1927), Orlando: A Biography (Orlando, uma biografia 1928), The Waves (1931), lush: A Biography (Flush, 1933), The Years (Os Anos, 1936) e o póstumo Between the Acts (Entre Atos, 1941).

Embora seja mais conhecida por seus romances, Woolf tem uma obra ampla, que inclui ensaios, crítica literária, contos, cartas e diários – tudo grafado em uma prosa de grande beleza e elegância.
Nascida Adeline Virginia Stephen, em 25 de janeiro de 1882, em Londres, Inglaterra, casou-se em 1912 com Leonard Woolf e juntos fundaram a editora Hogarth Press. O casal e um conjunto de amigos intelectuais formaram uma sociedade artística e literária chamada Bloomsbury Group.

Durante uma grave crise psiquiátrica, Virginia Woolf se suicidou em 28 de março de 1941, em Sussex, Inglaterra. Em uma carta endereçada ao marido, a escritora disse acreditar que “ficaria louca” e jamais se recuperaria.
Em Um Quarto Só para Si, Woolf vale-se de diversas estratégias para explorar a linha histórica da relação entre mulheres e produção literária. Todas elas voltadas para explicar ao leitor o caminho que a autora percorreu para chegar à conclusão de que uma escritora deve ter independência financeira e um espaço próprio, a fim de produzir sua ficção no ambiente de ampla liberdade que a literatura requer.

Serviço:
Um Quarto Só para Si
Título Original: A Room of One’s Own, 1929
Autora: Virginia Woolf (1882-1941)
Tradução: Maria Luiza X. de A. Borges
Capa e Projeto Gráfico: Victor Burton
Organização, notas, prefácio, preparação e revisão de tradução: Sonia Zaghetto
Número de páginas: 270
Formato: 14 x 21 cm
Revisão: Janaina Staciarini
Diagramação: Adriana Moreno
Ilustração da capa: Vanessa Bell, Interior with Artist´s Daughter, 1935-36.
Website: https://www.tagoreeditora.com.br/

Fonte: Assessoria de Imprensa